Inserida no programa de iniciativas comemorativas do cinquentenário da CGTP-IN, inaugurámos hoje, uma exposição constituída por vinte e quatro painéis, com imagens que testemunham alguns dos acontecimentos que marcam a história da CGTP-IN, organizados em cinco grandes temas: (i) Fundação, (ii) 1.º de Maio, (iii) Aniversários, (iv) Greves Gerais e (v) Congressos.
Com a preocupação de tornar a exposição mais inclusiva disponibilizamos, em cada um dos painéis expositivos, uma versão áudio do seu conteúdo, acessível mediante a leitura de um código QR. E recordamos que a Carris disponibiliza um serviço de mobilidade reduzida.
A exposição estará patente ao público na praça Luís de Camões, em Lisboa, entre 28 de Setembro e 15 de Outubro de 2020.
Intervenção de Isabel Camarinha
Secretária-Geral da CGTP-IN
A exposição que agora inauguramos evoca alguns dos momentos mais marcantes dos 50 anos de história da CGTP-IN.
Uma história que se funde com a história do movimento operário e a luta de todos os trabalhadores no nosso país.
Da acção nos tempos de monarquia e na primeira República, à resposta em plena noite fascista, a CGTP-IN é herdeira de um movimento que tem como marca indissociável a ligação aos locais de trabalho, enquanto alicerce da resposta organizada aos problemas dos trabalhadores.
Um processo que tem no centro a necessidade de juntar os trabalhadores em torno de um Movimento Sindical Unitário, composto por homens e mulheres que, independentemente das suas opções partidárias ou religiosas, são acima de tudo pessoas sérias, respeitadas e credibilizadas junto dos seus camaradas de trabalho e dedicadas à causa sindical.
É esta acção portadora de esperança e de confiança na capacidade dos trabalhadores e trabalhadoras tomarem nas suas mãos os destinos das suas organizações que, ainda em pleno fascismo, desenvolveram a luta nos locais de trabalho.
Foi a coragem de, naquelas condições, agir e lutar por melhores condições de vida e trabalho, recusar “as inevitabilidades” daquele tempo, que contribuíram decisivamente para a conquista de dezenas de sindicatos por direcções da confiança dos trabalhadores, nomeadamente na década de sessenta.
O embrião que tinha sido lançado anteriormente começava a dar novos frutos, agora com uma resposta colectiva, traduzida na criação da Intersindical, em Outubro de 1970.
Uma criação que surge da vontade dos trabalhadores em construir uma Central Sindical de classe.
“Da natureza de classe da CGTP-IN resulta a necessidade de assumir um conjunto de princípios, indissociáveis e interdependentes, que orientam e caracterizam as suas opções, tanto no plano da definição das suas reivindicações e objectivos programáticos, como na definição das suas formas de acção e luta, como ainda no modo como se estrutura e se organiza.”
Um movimento sindical assente em princípios estruturantes da solidariedade, da democracia e da independência, entendida e exercida em toda a sua plenitude.
Um movimento sindical de massas, cuja fonte de vitalidade e força está naqueles que o constituem, constroem, rejuvenescem e o reforçam todos os dias, que respondendo às necessidades imediatas, assume “a luta de classes como motor na evolução histórica da humanidade e do fim da exploração do homem pelo homem”, lutando pelo desenvolvimento do país, pela emancipação cívica, económica, social e cultural dos trabalhadores.
Além dos princípios da democracia, da independência, da solidariedade e do sindicalismo de massas, a CGTP-IN desenvolve-se ainda com base no princípio da Unidade.
Unidade que reconhece e incorpora a pluralidade do mundo laboral e que, alicerçada na acção em defesa de interesses comuns, impõe o combate a todas as tentativas de ingerência como condição para o reforço dessa mesma unidade.
Assim, vale a pena evocar o Congresso de Todos Sindicatos, o Congresso que, há 43 anos, marcou, pela sistematização de princípios e definição dos objectivos programáticos, uma nova etapa da nossa organização, baseada nos interesses de classe comuns e no combate a todas as acções tendentes à sua divisão, por aqueles, que, ontem pretendiam “partir a espinha” e hoje querem “domesticar” a Intersindical.
Este é um projecto em permanente construção, enriquecido com o viver, sentir e pulsar da luta dos trabalhadores, sujeito a um permanente confronto com o capital e as forças que o suportam e que visam conter avanços e retirar direitos, liberdades e garantias conquistadas.
No seguimento do XIV Congresso estamos aqui pelo compromisso com os valores, natureza e princípios que há muito moldam a nossa intervenção e fazem da CGTP-IN a maior organização social de Portugal.
Um Congresso onde assumimos a luta como motor da transformação, agora tal como naquele primeiro 1º de Maio realizado em liberdade, e como o 1º de Maio que realizámos este ano e que a exposição bem retrata!
A intervenção da Intersindical Nacional foi decisiva para a concretização das transformações políticas, económicas e sociais então realizadas e consagradas na Constituição da República Portuguesa e a sua acção de resistência à política de direita das últimas décadas, tem sido determinante para obstaculizar a ofensiva neo-liberal que faz da injustiça e das desigualdades, da exploração e do empobrecimento generalizado do país, as traves mestras do ajuste de contas com a democracia política, económica, social e cultural, conquistadas com a Revolução de Abril.
A acção da CGTP-IN foi determinante para travar muito dessa ofensiva e para todos os avanços alcançados nos direitos e melhoria das condições de vida dos trabalhadores, de que são exemplo a conquista das 40 horas e a eliminação do trabalho infantil.
Neste processo duro e prolongado, a CGTP-IN teve uma intervenção dinâmica, com uma estreita e permanente ligação aos trabalhadores e trabalhadoras, aos seus problemas e aos seus anseios. A capacidade de entrega dos seus quadros em todos os seus níveis de estrutura para melhorar as condições de vida e de trabalho de quem trabalha e defender a sua dignidade como pessoas e como trabalhadores, continua a ser uma referência deste projecto sindical, de compromisso com os valores e direitos de Abril no futuro de Portugal.
E aqui deixem-me referir como exemplo alguns camaradas aqui presentes.
Eles são a face mais visível dos processos de luta que aqui lembramos e que contaram com o papel insubstituível de milhares de trabalhadores, nas Greves Gerais, nos 1º de Maio, na acção que em cada sector, em cada empresa, desenvolvemos para defender os direitos, para avançar nas reivindicações, para afirmar alternativas, para colocar o trabalho e os trabalhadores no centro da transformação e do futuro que propomos para Portugal.
Uma luta que tem de continuar, num contexto em que o capital usa o novo corona vírus para acentuar a velha exploração. Usa o medo para condicionar a resposta. Usa a inevitabilidade para impor o pensamento único que conduz à acumulação de capital, ao crescimento das desigualdades e ao adiar permanente de uma maior coesão social e territorial, travando assim o desenvolvimento do país.
Vivemos um momento de novos e acrescidos desafios para o Movimento Sindical. Em que as opções políticas dominantes e os planos que estão a ser apresentados, tratam o trabalho e os trabalhadores como peças descartáveis na engrenagem do lucro.
Um momento que exige a mobilização, o esclarecimento e a luta pelo aumento geral dos salários e pensões e a fixação do SMN nos 850€ no curto prazo; pela valorização das carreiras e profissões; a luta pela estabilidade do emprego e o fim da precariedade; pela contratação colectiva e a revogação das normas gravosas da legislação laboral; pela redução do horário de trabalho para as 35 horas para todos; pela dinamização da produção nacional e a recuperação dos sectores estratégicos para a esfera pública; pela soberania, a solidariedade e a afirmação de um novo rumo para Portugal!
É este o nosso compromisso, o nosso projecto portador de direitos, motor do desenvolvimento. Sim, os direitos laborais e sociais, a elevação geral dos salários, não são um entrave ao desenvolvimento, antes pelo contrário como os últimos anos demonstram. Os direitos dos trabalhadores e o aumento geral dos salários chocam, isso sim, com os interesses do capital que enriquece com a exploração.
Está na hora de fazer rupturas. A mesma política, feita ao serviço dos mesmos interesses, vai produzir os mesmos resultados, os mesmos estrangulamentos e o agravamento dos problemas estruturais que há décadas padecemos.
Nesta exposição que comemora os 50 anos da Fundação da CGTP-IN, recuperamos o compromisso assumido no passado Sábado nas acções de luta que realizámos por todo o país, o compromisso de continuar a luta, reforçando a organização e a unidade entre todos os trabalhadores, de tomar nas nossas mãos a defesa e valorização do trabalho e dos trabalhadores, a conquista de um País desenvolvido e soberano, com os valores de Abril no futuro de Portugal.
É esta a nossa história, a história da CGTP-IN que há 50 anos nasceu por vontade dos trabalhadores, brotou dos locais de trabalho e organizou a poderosa força dos trabalhadores.
Uma história de que nos orgulhamos, porque nunca pactuámos com o assalto aos direitos e nunca aceitámos as teses do “mal menor”.
Uma história que numa ínfima parte apresentamos nesta exposição que faz parte de um vasto programa de comemorações que estamos a realizar por todo o país, em que olhamos para o passado não com saudosismo, mas como fonte de inspiração e de força para a luta que temos pela frente!
Alicerçados nos nossos princípios, herdeiros de um legado de luta das gerações que nos antecederam, olhamos para o futuro certos que a nossa história se constrói todos os dias com a acção e luta dos trabalhadores.
VIVA A CGTP-IN!